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Afinal,
O Quê é Black Music? |
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É lamentável ouvir nos dias
de hoje, opiniões precipitadas por parte de algumas pessoas
da nova escola do hip-hop a respeito da black music. Frases como:
aquilo é festa que só rola black... Black music
é o c..., o negócio é hip-hop!, ilustram
o estado de consciência daqueles que se intitulam os membros
de um movimento entendido como hip-hop. Infelizmente percebesse-se,
que, muito pouco ou realmente nada se sabe a cerca daquilo que
estes julgam defender... Neste caso, cabe ressaltar que o rap,
o quanto música, é um elemento, e também
o último a compor as galhas da gigantesca árvore
da black music; e, para que talvez este preconceito passe a não
existir mais em nosso meio, resolvi desenvolver um resumo que
pudesse servir de guia explicativo para romper as dúvidas
naturais sobre este assunto:
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Blues-
estilo musical afro-americano, caracterizado por expressivas
modulações (blue notes), qualidades tonais
únicas e fraseado original, com temas tristes, de
desilusão amorosa sob a ótica da condição
negra, influenciado pela matriz africana no padrão
de “chamados e respostas” dos refrões,
e na imitação de frases vocais através
dos instrumentos, em especial a guitarra.. O blues nasce
no sul dos EUA, no delta do Mississipi, no fim do séc.
XIX, tendo como referência básica os bluesmen
WC Handy e Charlie Patton.
Atingindo sua maturidade no norte (Chicago), o blues passa
a influenciar todos os estilos de jazz, consagrando durante
os anos 20 Bessie Smith fazendo dela sua intérprete
clássica (Mama’s Got the Blues); enquanto que
Louis Armistrong, com suas inovações, faz
com que o blues e o jazz ocupem notavelmente a categoria
de expressão artística. Billie Holiday, também
pode ser lembrada |
como
a cantora das décadas de 30 e 40.
Nos anos 40, surge a modalidade do be-bop, popularizada por Charlie
Parker e Dizzy Gillespie, trazendo desta forma, uma nova concepção
harmônica, dando inclusive, influência na música
contemporânea e no rock.
Funk-
estilo de rock negro surgido nos EUA por volta de 1970, marcado
por personalidades de artistas como James Brown, Sly Stone e Stevie
Wonder.
Gospel-
cântico religioso dos negros no sul dos EUA durante a escravidão.
Pode-se afirmar que do gospel originaram-se ritmos como o jazz,
rock e funk, fazendo dele o ponto de partida para o conceito da
black music. Deste gênero, destacaram-se nomes como Mahalia
Jackson, Aretha Franklin, Al Green e Kirk Franklin.
Jazz-
música afro-americana criada no início do
século (1890-1910) pelas comunidades negras do sul
dos EUA, baseada principalmente na improvisação,
no tratamento original da matéria sonora e em uma
valorização específica do ritmo (swing).
Neste período, ocorre em Nova Orleans a fusão
de três estilos musicais até então paralelos:
a música popular dos negros (música religiosa,
cantos de trabalho e em especial o blues), o ragtime e a
versão “branca”, europeizada, da popular
afro-americana (música de vaudeville). Esta síntese
passa a ser possível graças à harmonia
criada entre as diversas etnias negras existentes na época,
cujo uma delas, por ser de expressão francesa, consegue
a apreciação do código legislativo
da Louisiana que passa a considerá-lo como uma expressão
autenticamente negra. Destacaram-se ao longo do tempo nomes
importantes como Jelly Roll, Sidney Bechet e Louis Armstrong. |
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Rap-
conhecido pela tradução da sigla “ritmo &
poesia”, o rap aparece nas ruas do bairro do Bronx por volta
de 1975, através das popularizações do projeto
do dj Grand “Master” Flash: o grupo de rap The Furious
Five. Embora o rap faça parte da cultura hip-hop, e, atualmente,
tenha adquirido a aceitação e participação
das demais raças, ele ainda carrega em seu DNA a predominância
legitima da raça negra em suas características,
vindo o quanto expressão musical compor, dentro da modernidade,
sua colocação junto à árvore da black
music. Personalidades como Grand “Master” Flash &
The Furious Five, Afrika Bambaataa & The Soul Sonic Force
e Run DMC alavancaram o gênero para mundo, tornando-o uma
indústria poderosa de 1 bilhão de dólares.
Rhytm
and Blues- gênero de música popular negra norte-americana
surgida em torno de 1940 através da fusão entre
o blues, o jazz e o gospel, indissociável à dança,
na qual o rock-and-roll se inspirou profundamente. Do r&b,
se destacaram e se destacam até hoje grandes nomes: Chaka
Khan, Teddy Pendergrass, Mary J. Blige...
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Rock-and-Roll-
estilo musical com predominância vocal, nascido nos
EUA, do encontro da música popular negra (blues e
r&b) com elementos tomados do folk dos brancos (música
hillbilly, country and western). Caracterizado por um ritmo
4/4 fortemente apoiado no segundo e quarto tempo, o r&r
utiliza uma instrumentação onde predominam
as guitarras elétricas e a bateria. Por ser um gênero
adotado por dois pais, um branco e outro negro, o rock gera
na década de 50 dois paralelos: o negro, originário
do blues, mais agitado, revelou nomes como Little Richard,
Bo Didley e Chuck Berry; enquanto que o branco, sob a conotação
de rockabilly, com influências sulistas, trouxe nomes
como Elvis Presley, Buddy Holly, Eddie Cochran, Ricky Nelson,
Gene Vincent, Carl Parkins e Jerry Lee Lewis. De todo o
modo, tal ancestralidade pode ser atribuída à
raça negra, que, diante da raça branca, não
possuía a mídia em seu favor para divulgar
sua mais nova descoberta sonora... |
Soul-
nome adotado na década de 60, a um tipo de música
popular negra derivada do r&b, do qual muitos movimentos negros
da época se inspiraram politicamente para conotar através
das trilhas sonoras suas reivindicações. Se destacaram
deste gênero nomes importantes como Aretha Franklin, Wilson
Pickett, Al Green, Stivie Wonder, Smokey Robinson, Marvin Gaye
e James Brown.
Para que se entenda de forma prática, “black music”
é todo e qualquer gênero musical, negro, de procedência
afro-americana. No Brasil, muitos artistas, afro-brasileiros,
conseguiram reproduções dignas de nosso apreço
e respeito: Simoninha, Cláudio Zoli, Ed Motta, Jair Oliveira,
Racionais MCs, Pregador Luo, Max de Castro, Paula Lima, Motirô,
Hannah Lima, Daddy Kall, Seu Jorge, Marcelo D2, Silveira, B. Negão,
Pedro Mariano, Luciana Melo e Robson Nascimento, são apenas
uma pequena mostra de uma safra que, graças à magia
da diáspora, adicionou temperos nacionais em ritmos internacionais,
tornando-os ainda mais nosso...
Após este breve estudo, esperemos que haja alguma mudança
dentro do hip-hop nacional em se tratando de sentimento de inclusão
a outros ritmos, pelos quais, muitas vezes, julgamos não
ter uma relação mais direta para a formação
do nosso rap. Isto também vale para os ditos entendedores
de black music, conhecidos como “charmeiros”, que,
em sua minoria, pateticamente a tratam como que se fosse simplesmente
um resumo entre o r&b e o soul. Ao contrário do que
está preestabelecido, é necessário que não
apenas gostemos do ritmo, mas também entendamos ou estejamos
abertos as informações relacionadas àquilo
que apreciamos.
A
black music agradece e o hip-hop também!
TR
(Acorda Hip-hop!)
“Quem
fala que só curte jungle e que não gosta de mais
nada é hipócrita. Se eu entrar na casa dele, vou
achar discos dos Bee Gees e Diana Ross. A mesma coisa vale pra
quem disse que só ouve house, se eu for pra dele vou achar
discos de rock e funk. E o mesmo vale pro cara que fala que só
ouve hip-hop, vou achar estilos diferentes na casa dele também.
As pessoas gostam de todos os estilos musicais. Elas se amarram
num estilo e agem como se fosse delas. Música é
música”.
Afrika Bambaataa
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