Seu primeiro contato com o hip-hop se deu quando tinha apenas
8 anos de idade, no bairro do Brooklyn (NYC), período em
que fora morar com sua mãe. Entre algumas idas e vindas,
aos 24 anos ele se restabelece em São Paulo e tem o prazer
de conhecer os trabalhos de artistas importantes como Racionais
MC’s, Thaíde e DJ Hum e SP Funk, decidindo dessa
maneira o rumo que daria em sua vida; e mesmo que sua aproximação
com a cultura tenha sido ainda na infância, ele teima em
dizer que sua carreira como “mc-rapper” iniciou-se
há 1 ano apenas: caro internauta, eu lhe apresento MC Cabal!
Participando do projeto Motirô, idealizado pelo sem igual
DJ Hum, Cabal divide suas rimas com o vocal afiado do cantor black
Lino Criss, e juntos são os responsáveis pelo hit
das pistas de dança e FMs do país: “Senhorita”,
faixa da compilação “Humbatuque Club”
– nome também do selo independente de DJ Hum, que
reúne artistas de renome como Paula Lima, Xis e SP Funk.
O Portal Campo Grande aproveitou a sua mine tour pelo Rio de Janeiro,
agora no mês de janeiro, para um bate-papo informal à
respeito de seu trabalho...
Portal
Campo Grande- A sua origem não é caracterizada em
comunidade pobre como a maioria dos rappers brasileiros. Sendo
assim, como é sua relação junto ao nosso
movimento?
Cabal- O trabalho já foi bem recebido
porque a intenção foi trazer um pouco da positividade
pra dentro do rap, trazer de volta o espírito da festa,
da diversão – claro que o rap, ainda mais no Brasil,
que é um país muito desigual, economicamente e socialmente
falando, na minha opinião, tem que ter um compromisso,
tem que ser politizado, tem que protestar, tem que ser a voz de
quem não tem voz. Mas eu acho que isso não quer
dizer que a gente também não possa cantar paralelamente
a isso e se divertir, falar de amor, paz e outros assuntos positivos.
E é importante dizer que eu tô nessa parada porque
eu amo de coração! Então, o sucesso é
apenas uma conseqüência: qualquer trabalho que você
usa visando o dinheiro ou sucesso, você não tá
comprometido com o hip-hop. A recepção, graças
à Deus, tem sido muito boa, tanto nas comunidades, nas
periferias do Rio, como nas casas de nível social mais
elevadas.
PCG-
O Cabal pelo visto é um artista versátil quando
o assunto é rimar. Nesta sua dupla personalidade vocal
(mc-rapper), que elemento você aderiu primeiro?
CB- Eu comecei escrevendo. Eu escutava muito
rap gringo, e uma coisa que eu sempre gostei muito era o flow
(forma de cantar) dos mcs; às vezes eu nem prestava tanto
a atenção nas letras, e ficava mais atento as levadas,
as posturas vocais dos caras. Quando eu escutei o SP Funk, eu
mudei a minha concepção do rap em português:
p..., eu posso escrever rap sem morar na periferia e falar dela
então?! Daí eu comecei a escrever e fazer freestyle
assistindo o Max BO, o Kamal e tantos outros mcs de improviso
do Brasil.
PCG-
Na última sexta-feira (28/01), você teve o prazer
de dividir o palco com o consagrado Nelboy, na quadra do GRES
Delírios da Zona Oeste (Cpo. Grande). Como você pode
descrever essa experiência com um representante do hip-hop
angolano?
CB- Eu conheci ele ontem, sabia somente sobre
ele através da internet, e lá eu curti o show dele,
a levada dele... E eu acho assim: ao redor do mundo, tem vários
lugares em que o idioma oficial é o português. Todos
esses lugares têm que se unir, até porque –
tirando Portugal – todos são países subdesenvolvidos
e que têm muito a ver com o Brasil. A Angola tem muito a
ver com o Brasil, sofreu muito com a escravidão... Então,
essa interação com o Nelboy teve tudo a ver!
PCG-
Você chegou aqui numa época em que o Rio unanimemente
está respirando o carnaval, mesmo assim o sucesso de “Senhorita”
invadiu o estado de ponta-a-ponta. O quê você tem
a dizer sobre seu contato com o grande público nesta época?
CB- Eu acho muito engraçado, porque assim:
eu sou de São Paulo e o som começou lá, mas
em São Paulo, na rua, eu não sou conhecido. Aqui
no Rio, eu tô andando por aí direto, nego me vê:
E aê Cabal...?! A Jovem Pan tem bombado a música,
o Multishow tá dando uma moral no clipe, então,
mesmo nessa época, eu acho que tá tendo uma exposição
aqui no Rio até maior que em São Paulo – não
sei qual o motivo, mas aqui a receptividade tá sendo muito
boa, agora por exemplo a gente tá indo na comunidade da
Fazendinha (zona norte), junto com o DJ Paxson e pelo que tô
sabendo, todo mundo curte o meu som no baile, e pra mim é
o maior prazer em saber que as pessoas, das periferias às
zonas nobres, tão curtindo o meu trabalho.
PCG-
Uma pergunta que não quer se calar: a exposição
do hip-hop na mídia, como o Cabal vê este fato?
CB- Primeiro: cada um, cada um. Na minha opinião,
o rap não tem que ter regra. Se alguém fala que
o rap é isso, o rap é aquilo, ele tá errado.
O rap é música! Sendo música, não
tem fronteira! Depende então do artista: se a emissora
convida o artista pra fazer alguma coisa, vai dele escolher o
que é melhor pra ele. Respeito todo mundo que não
vai, admiro também essa postura de dizer “Não”,
mas também admiro quem tá botando a cara na TV pra
mostrar que o rap não é aquele estereotipo de música
de ladrão. É música! E todo mundo que gosta
de música, tem o direito de escutar e assistir. Eu, particularmente,
vou, não tenho nada contra a mídia, só que
a parada é a seguinte: eu sou o mesmo cara na TV, o mesmo
na rua e o mesmo na minha casa. Pra mim é isso que importa!
PCG-
A faixa “Senhorita” é sucesso absoluto, mas
ainda está ligada a coletânea “Humbatuque”.
Depois dessa alavancada, como fica estabelecida a situação
do Motirô?
CB- São dois projetos separados: tem o
projeto Motirô e o Cabal. O Motirô tá em fase
de produção de um CD, totalmente produzido pelo
DJ Hum, vai ser lançado pela “Humbatuque” que
é o selo independente dele. Já em relação
ao meu trabalho solo, tô negociando com alguns selos, a
previsão de lançamento é ainda pro primeiro
semestre desse ano, tá sendo produzido pelo Hum e o Zé
Gonzales, com algumas participações confirmadas
do Rossi (Pavilhão 9), Mr. Catra, entre outros, e eu tô
trabalhando muito – agora tô até parando um
pouco de fazer os shows pra focar mais no disco e tentar pôr
estes dois trabalhos ainda esse ano.
PCG-
Um conselho aos “marinheiros de primeira viagem” que
desejam ingressar nesta carreira.
CB- O que é muito importante, e foi até
tema do Agosto Negro de 2004 – O Hip-hop Salva; não
sei se salva, mas ajuda muito. Por exemplo: uma criança
ou um adolescente, que ás vezes tá sem rumo, a hora
que o moleque conhece o break, o graffiti, a arte do scratch (dj),
a rima, a poesia, aquilo pode tirar ele da rua, do crime. Isso
eu acho muito importante no hip-hop, principalmente pra quem tá
começando, de saber sobre esse valor e nunca perder isso
de vista. Além disso, acreditar bastante no seu sonho,
correr atrás e nunca deixar ninguém dizer que você
não pode, que você não vai ser, que você
não tem talento, porque todo mundo tem a sua estrela e
você só precisa saber aonde você vai brilhar.
E aproveito também pra mandar um salve pro DJ Claysoul,
Paxson e todos os djs do Rio que me fortalecem; todos os mcs,
a rapaziada do Rapevolusom, Mr. Catra e todo mundo que me recebeu
com carinho aqui no Rio. Valeu!
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