O Portal de Campo Grande lança mais uma super coluna, desta vez sobre a Cultura do Hip Hop no Brasil.
Esta coluna está sendo escrita pelo DJ TR

Saiba mais sobre o DJ TR:

- Militante do movimento hip-hop há 14 anos
- Coordenador da ATCON (Associação Atitude Consciente)
- Membro da Zulu Nation Brasil
- Palestrante, escritor e colunista
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Motirô
 
Motirô
Uma Ode às Senhoritas do Brasil sob as rimas de “MC Cabal”...

Seu primeiro contato com o hip-hop se deu quando tinha apenas 8 anos de idade, no bairro do Brooklyn (NYC), período em que fora morar com sua mãe. Entre algumas idas e vindas, aos 24 anos ele se restabelece em São Paulo e tem o prazer de conhecer os trabalhos de artistas importantes como Racionais MC’s, Thaíde e DJ Hum e SP Funk, decidindo dessa maneira o rumo que daria em sua vida; e mesmo que sua aproximação com a cultura tenha sido ainda na infância, ele teima em dizer que sua carreira como “mc-rapper” iniciou-se há 1 ano apenas: caro internauta, eu lhe apresento MC Cabal!

Participando do projeto Motirô, idealizado pelo sem igual DJ Hum, Cabal divide suas rimas com o vocal afiado do cantor black Lino Criss, e juntos são os responsáveis pelo hit das pistas de dança e FMs do país: “Senhorita”, faixa da compilação “Humbatuque Club” – nome também do selo independente de DJ Hum, que reúne artistas de renome como Paula Lima, Xis e SP Funk.

O Portal Campo Grande aproveitou a sua mine tour pelo Rio de Janeiro, agora no mês de janeiro, para um bate-papo informal à respeito de seu trabalho...

Portal Campo Grande- A sua origem não é caracterizada em comunidade pobre como a maioria dos rappers brasileiros. Sendo assim, como é sua relação junto ao nosso movimento?
Cabal- O trabalho já foi bem recebido porque a intenção foi trazer um pouco da positividade pra dentro do rap, trazer de volta o espírito da festa, da diversão – claro que o rap, ainda mais no Brasil, que é um país muito desigual, economicamente e socialmente falando, na minha opinião, tem que ter um compromisso, tem que ser politizado, tem que protestar, tem que ser a voz de quem não tem voz. Mas eu acho que isso não quer dizer que a gente também não possa cantar paralelamente a isso e se divertir, falar de amor, paz e outros assuntos positivos. E é importante dizer que eu tô nessa parada porque eu amo de coração! Então, o sucesso é apenas uma conseqüência: qualquer trabalho que você usa visando o dinheiro ou sucesso, você não tá comprometido com o hip-hop. A recepção, graças à Deus, tem sido muito boa, tanto nas comunidades, nas periferias do Rio, como nas casas de nível social mais elevadas.

PCG- O Cabal pelo visto é um artista versátil quando o assunto é rimar. Nesta sua dupla personalidade vocal (mc-rapper), que elemento você aderiu primeiro?
CB- Eu comecei escrevendo. Eu escutava muito rap gringo, e uma coisa que eu sempre gostei muito era o flow (forma de cantar) dos mcs; às vezes eu nem prestava tanto a atenção nas letras, e ficava mais atento as levadas, as posturas vocais dos caras. Quando eu escutei o SP Funk, eu mudei a minha concepção do rap em português: p..., eu posso escrever rap sem morar na periferia e falar dela então?! Daí eu comecei a escrever e fazer freestyle assistindo o Max BO, o Kamal e tantos outros mcs de improviso do Brasil.

PCG- Na última sexta-feira (28/01), você teve o prazer de dividir o palco com o consagrado Nelboy, na quadra do GRES Delírios da Zona Oeste (Cpo. Grande). Como você pode descrever essa experiência com um representante do hip-hop angolano?
CB- Eu conheci ele ontem, sabia somente sobre ele através da internet, e lá eu curti o show dele, a levada dele... E eu acho assim: ao redor do mundo, tem vários lugares em que o idioma oficial é o português. Todos esses lugares têm que se unir, até porque – tirando Portugal – todos são países subdesenvolvidos e que têm muito a ver com o Brasil. A Angola tem muito a ver com o Brasil, sofreu muito com a escravidão... Então, essa interação com o Nelboy teve tudo a ver!

PCG- Você chegou aqui numa época em que o Rio unanimemente está respirando o carnaval, mesmo assim o sucesso de “Senhorita” invadiu o estado de ponta-a-ponta. O quê você tem a dizer sobre seu contato com o grande público nesta época?
CB- Eu acho muito engraçado, porque assim: eu sou de São Paulo e o som começou lá, mas em São Paulo, na rua, eu não sou conhecido. Aqui no Rio, eu tô andando por aí direto, nego me vê: E aê Cabal...?! A Jovem Pan tem bombado a música, o Multishow tá dando uma moral no clipe, então, mesmo nessa época, eu acho que tá tendo uma exposição aqui no Rio até maior que em São Paulo – não sei qual o motivo, mas aqui a receptividade tá sendo muito boa, agora por exemplo a gente tá indo na comunidade da Fazendinha (zona norte), junto com o DJ Paxson e pelo que tô sabendo, todo mundo curte o meu som no baile, e pra mim é o maior prazer em saber que as pessoas, das periferias às zonas nobres, tão curtindo o meu trabalho.

PCG- Uma pergunta que não quer se calar: a exposição do hip-hop na mídia, como o Cabal vê este fato?
CB- Primeiro: cada um, cada um. Na minha opinião, o rap não tem que ter regra. Se alguém fala que o rap é isso, o rap é aquilo, ele tá errado. O rap é música! Sendo música, não tem fronteira! Depende então do artista: se a emissora convida o artista pra fazer alguma coisa, vai dele escolher o que é melhor pra ele. Respeito todo mundo que não vai, admiro também essa postura de dizer “Não”, mas também admiro quem tá botando a cara na TV pra mostrar que o rap não é aquele estereotipo de música de ladrão. É música! E todo mundo que gosta de música, tem o direito de escutar e assistir. Eu, particularmente, vou, não tenho nada contra a mídia, só que a parada é a seguinte: eu sou o mesmo cara na TV, o mesmo na rua e o mesmo na minha casa. Pra mim é isso que importa!

PCG- A faixa “Senhorita” é sucesso absoluto, mas ainda está ligada a coletânea “Humbatuque”. Depois dessa alavancada, como fica estabelecida a situação do Motirô?
CB- São dois projetos separados: tem o projeto Motirô e o Cabal. O Motirô tá em fase de produção de um CD, totalmente produzido pelo DJ Hum, vai ser lançado pela “Humbatuque” que é o selo independente dele. Já em relação ao meu trabalho solo, tô negociando com alguns selos, a previsão de lançamento é ainda pro primeiro semestre desse ano, tá sendo produzido pelo Hum e o Zé Gonzales, com algumas participações confirmadas do Rossi (Pavilhão 9), Mr. Catra, entre outros, e eu tô trabalhando muito – agora tô até parando um pouco de fazer os shows pra focar mais no disco e tentar pôr estes dois trabalhos ainda esse ano.

PCG- Um conselho aos “marinheiros de primeira viagem” que desejam ingressar nesta carreira.
CB- O que é muito importante, e foi até tema do Agosto Negro de 2004 – O Hip-hop Salva; não sei se salva, mas ajuda muito. Por exemplo: uma criança ou um adolescente, que ás vezes tá sem rumo, a hora que o moleque conhece o break, o graffiti, a arte do scratch (dj), a rima, a poesia, aquilo pode tirar ele da rua, do crime. Isso eu acho muito importante no hip-hop, principalmente pra quem tá começando, de saber sobre esse valor e nunca perder isso de vista. Além disso, acreditar bastante no seu sonho, correr atrás e nunca deixar ninguém dizer que você não pode, que você não vai ser, que você não tem talento, porque todo mundo tem a sua estrela e você só precisa saber aonde você vai brilhar. E aproveito também pra mandar um salve pro DJ Claysoul, Paxson e todos os djs do Rio que me fortalecem; todos os mcs, a rapaziada do Rapevolusom, Mr. Catra e todo mundo que me recebeu com carinho aqui no Rio. Valeu!

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